terça-feira, maio 25, 2010

Dente-de-Leão

Chama.
Chama.
Chama.

Ninguém atende.

O tempo passa como se tivesse um peso preso nos pés e eu ali, sentada com o coração na mão direita e o celular na esquerda.
Só para constar, eu sou destra.
Destra e tensa.
Conclusão: Esmagava o meu coração com aflição e ansiedade como nunca fizera antes. E como doía.
Mas o que mais me doía era aquela história de "chama chama e ninguém atende".
Falar com a moça da caixa postal já não tinha mais graça e, mesmo consciente de que estava ligando loucamente, a necessidade de falar com você era maior do que qualquer estado de sanidade aceitável pela sociedade maluca que no rege.

Já me basta ter de aceitar fazer parte desse mundo, dessa cidade, dessa loucura chamada escola.
Acho que nessas horas, a minha família é a única coisa que me conforta. E é claro, os amigos do peito.
Às vezes chego a considerar a ideia de fugir e me encolher num canto de gruta qualquer e ficar só ali, pensando na vida. Queria um tempo sozinha pra ficar pensando, chorando tudo o que eu tenho para chorar, tempo para pensar nos meus acertos, nos erros, em quem realmente vale a pena e se de fato estou fazendo as escolhas certas.

Vontade de mandar o mundo a merda.
Vontade de fazer uma lavagem cerebral naqueles que são maus.
Vontade de sair caminhando por ai sem rumo até encontrar uma respostas decente para as perguntas que eu uso para me iludir.
Porque pelo jeito é assim, só ilusão.

Tô cansada, triste, me sentindo totalmente desprezada.
Juro que não é pelo celular ou pelo cartão. Estou assim por aqueles que não sabem o valor de uma ação decente, por aqueles que olham para aquilo que não lhes pertence e mesmo assim, pega para si e faz o que quer como se fosse uma dente de leão no campo.

Só espero que a vida seja justa.
Eu sei que é.
O meu medo é que até lá eu já tenha perdido as esperanças.

sábado, maio 01, 2010

Faca de açougueiro.

Ela estava triste.

Dinho estava de partida e Manu, ali, olhando para o chão sem ao menos um pingo de esperança em seu coração.
Por que tinha que ser assim?
Encostada no carro, fingia que não ligava para o fato de ver a razão da sua felicidade ir embora... 
A verdade é que, por mais que ela gostasse dele, demonstrar o que tinha dentro de si não era o melhor a ser feito naquele momento.

"Sabe, morena... Ficar sem você não vai ser fácil."
"É..."

Manu não sabia o que responder. Sentia dentro de si um misto de tristeza, carinho e raiva.

"Fica..."

Foi só o que ela conseguiu dizer naquele momento, mas Dinho não estava olhando para ela.

Uma mulher bonita passara.

Naquela hora, talvez o melhor e mais aceitável fosse que Manu esbravejasse, gritasse e xingasse a mãe de Dinho com todas as suas forças e vocabulários chulos. 
Mas o fato inevitável, inexplicável e incoerente, era que ela queria abraça-lo.
Ela precisava, a cima de qualquer direito de sentir ciúme, te-lo em seus braços; ou melhor, sentir-se confortada pelos braços dele.
Queria poder abraça-lo tão forte, mais tão forte até que finalmente pudesse sentir sem receio que nada faria com que eles se distanciassem. Mais uma vez, ela precisava de contato físico, presença. E a de Dinho, era tudo o que ela poderia querer naquele momento.
Logo que a mulher loira terminou de dobrar a esquina, Dinho perdeu-se no momentaneamente no tempo e balançou calmamente a cabeça enquanto sorria apoiando uma das mãos na nuca. até que de repente, após aquela fração de segundos interminável, trombou com os olhos intensos de Manuela.

E que pancada.

Ele sabia que tinha feito merda. E pior, sabia que desculpa alguma em toda a face da Terra seria capaz de tira-lo daquela situação.

Os olhos de Manu penetravam tão profundamente nos de Dinho que parecia mais que sua alma estava sendo rasgada por um único corte frio e preciso de faca de açougueiro. Sinceramente, ele não sabia o que deveria fazer.
Olhou a sua volta a procura de qualquer coisa que pudesse ajuda-lo a pensar em algo para dizer. Viu apenas um ou dois carros passando, um cachorro perdido marcando território num poste pichado e algumas pombas ciscando o chão. Logo que decidiu tomar coragem e enfrentar a situação, Manu estava em seus braços, chorando.
Olhou-a carinhosamente. Beijou a sua cabeça e sorriu espontaneamente mesmo sabendo que ela não estava olhando para o seu rosto. Para quem não os conhecesse e estivesse apenas de passagem, diria que aquela cena lembrava mais aquelas em que o pai, que está indo embora para lutar na guerra, abraça a mulher e os filhos sabendo que não vai voltar embora diga que em breve estará lá para a hora do jantar.
Só que naquele caso específico, a diferença era que Manu sabia muito bem que Dinho não voltaria.
Dinho era do mundo, das praias, do vento. Revê-lo foi algo fora do comum, uma possibilidade que Manu por muito tempo sequer pensara em alimentar devido as circunstâncias em que se conheceram. 
Quando sentiu que Manu iria se afastar, o homem alto de ombros largos olhou-a e secou uma das lágrimas que corria pela pele quente e morena. 

"Vai dar tudo certo. Eu prometo"
"Eu sei que vai." Disse a moça "Sei que vai..."

Como na primeira vez em que ficaram, Dinho pôs a mão direita com sutilesa no queixo de Manu e levou-o de encontro ao seu. 
Manu sentiu o seu corpo amolecer, ali, no meio da calçada. Foi andando para trás devagar até que sentiu o muro áspero e triste atrás de si. Não ligou. Deixou Dinho toma-la em seus braços e despedir-se.

Ela sabia que tudo ficaria bem.