quarta-feira, setembro 26, 2018

London Tube

Hoje, enquanto esperava pelo metrô, notei uma menina loira usando óculos escuros parada ao meu lado na plataforma. Dei de ombros e me posicionei para esperar o vagão lotado que estava a caminho. Quando as portas abriram, ela rapidamente entrou, seguida por mim e pelo restante da multidão. Encontrei então um lugar perto da porta e decidi ficar por ali.  Sabendo que não valeria a pena sentar, respirei fundo para conseguir manter a calma até chegar o momento de descer dali três estações. 

Assim que a porta fechou, ouvi gritos furiosos. A menina, que antes parecia inofensiva ao meu lado, agora brigava ferozmente por um lugar no meio do vagão. Confesso que não consegui enxergar muito bem, mas pude ver rapidamente a expressão de constrangimento da mulher que aparentemente estava competindo pelo mesmo lugar. De repente, um silêncio humano se instalou entre o barulho produzido pelo contato do vagão com os trilhos do metrô. Foi possível sentir uma mistura de curiosidade e constrangimento por parte de todos ali, inclusive eu. Até então, não tinha conseguido entender o que a menina tinha dito ou o porquê dos seus movimentos bruscos com as pernas, como se estivesse tentando afastar as pessoas a sua volta com pontapés. 

Depois de alguns segundos, ela voltou a gritar, agora dizendo que tinha problemas psicológicos. Disse que era injusto não ser respeitada porque seu problema não era facilmente perceptível. Nessa hora, meu coração apertou e me compadeci por ela - quis abraça-la e dizer que entendo. Realmente queria. Carregar dores e traumas em locais públicos requer  muita coragem porque, no mínimo, as pessoas podem te olhar como se fosse loca caso você diga alguma coisa. Elas normalmente lançam um olhar carregado de julgamento para cima de você, afinal, que tipo de pessoa admitiria suas fraquezas? Não seria uma espécie de sorte bom poder mante-las invisíveis? 

Agora tudo fazia mais sentido.
Reparei mais uma vez na mulher que tentou pegar o lugar da menina -agora munida de mais informações e do meu viés -  e vi que, embora fosse realmente mais velha, nem de longe ela tinha mais de 60 anos - uns 53 e alguns fios brancos a mais, talvez. Mas como a questão não era essa, então tentei me concentrar no bem estar da menina. 

O ponto é que absolutamente ninguém disse nada por um tempo e eu também continuei ali, sentindo uma aflição muito grande, como se fosse minha obrigação atravessar o vagão lotado para tentar acalmá-la e conversar um pouco para que ela se sentisse segura. Não o fiz. Meu egoísmo, preocupado em não perder a próxima parada, unido ao medo de me expor, ainda precisam ser intensamente trabalhados.
Porém, assim que minha estação chegou, ao sair acompanhada por quase metade da plateia que estava comigo no vagão, meu coração ficou mais calmo. Vi uma mulher sentada ao lado da menina e conversando com ela de maneira gentil e serena, bem do jeito que eu gostaria de ter feito - mas não consegui.