terça-feira, abril 19, 2011

Mãos.

Ela estava confusa, cansada e tremendamente solitária.
A certeza de que o dia ainda demoraria para chegar ao fim devorava qualquer possível sorriso, qualquer sonho ou decisão que pudesse tirá-la dequele sofá de couro velho.
Chovia e fazia frio.
Sentia falta, saudade.
Estava totalmente depremida e isso fazia com que ela sentisse um aperto absurdo dentro de si.
Mudou de canal sem se preocupar em encontrar algo que de fato prestasse e logo que se deu conta de que nada que passasse ajudaria a resolver sua questão existencial babaca, levantou.

Deitou de qualquer jeito na cama macia e fechou os olhos suavemente.
Ela não queria sofrer, não queria pensar... Só queria dormir.
Virou de um lado, voltou para o outro e quando viu, estava com as duas mãos junto ao peito, como se estivesse rezando.
Tudo aconteceu mais do que instintivamente e logo que se deu conta, estava respirando fundo e rezando palavras que em nenhuma outra situação poderiam parecer mais sinceras.
Era bem mais do que uma questão existencial babaca.
Era, sem dúvida, uma ponte quebrada, um momento de reflexão que há muito tempo ela não tinha.
Logo que percebeu as mãos unidas sob o queixo, por um segundo se reprimiu e escondeu-as como se tudo aquilo fosse errado, como se fosse fora da lei rezar ou simplesmente refletir sobre qualquer coisa antes de dormir.
Olhou para os lados, viu a porta fechada e deu de ombros.
Sorriu.
Juntou vagarosamente as palmas das mãos novamente sob o queixo e ainda sorrindo, continuou a se imaginar recitando suas palavras mágicas.
Não demorou muito para que ela pegasse no sono. Para falar a verdade, logo que acordou não conseguia sequer dizer o que tinha sonhado.
Isso sim é dormir tranquilamente.