quarta-feira, abril 21, 2010

"Ai, ai..."

sábado, abril 03, 2010

Que medo alegre o de te esperar!

Os dias passavam devagar. 

Manu batia as unhas compridas em sequência em cima da mesa do bar.
Enquanto o relógio velho de parede insistia em levar seu tempo exatamente como uma lesma leva a vida, os olhos de manu continuavam longe, perdidos naquele horizonte que não havia... Horizonte triste, mistura pura de tijolo e saudade. 
Ela pensava, sorria, queria com todas as suas forças poder voltar para aquele dia de final de ano... queria poder aguçar os sentidos e ouvir somente a música que ela ouvira naquela noite chuvosa de reveillón. 
Sim, chovia... Mas os fogos não deixaram o destino de Manu na mão. Não daquela vez.

Ela não tinha o costume de frequentar aquele bar... Normalmente ela ia em casas de samba e de preferência, sempre acompanhada pelas amigas.
Mas dessa vez ela estava só, num bar qualquer, ouvindo uma playlist estranha que misturava desde Chico Buarque até Natiruts. 
Mas a pesar de tudo, ela estava certa de que tudo ali estava a seu favor. 
Respirou fundo, sorriu e resolveu chamar o garçom. Já se passavam das 22h00 e até agora continuava ali, apenas ela e mais quatro copos vazios cheios de espuma no fundo.
Depois do quinto, olhou em volta e abaixou a cabeça. "Chega, vou pedir a conta. Deu de Chico por hoje."

Então, logo quando levantou a cabeça pesada com os olhos em busca de alguém que pudesse trazer sua conta, ouviu uma sequência de notas conhecidas saindo da caixinha de som. 
"Agora vem dizer, Morena..."

Naquele mesmo instante, seu peito se encheu de ar e seus olhos ficaram cheios de lágrimas como há muito tempo não ficavam. 
Manu ajeitou instintivamente o cabelo e antes que pudesse virar o corpo para trás, sentiu aquelas mãos grandes e firmes tampando os seus olhos. 
"Sabia que você viria"

Ele sentou, sorriu e por lá ficaram até mais ou menos duas da madrugada. 
Ela, sempre com seu sorriso de lado e seu cabelo de cachos hipnotizavam Dinho como uma sereia. Sem dúvida Manu nunca fora dotada de tal capacidade, mas desde a ultima vez em que o vira, decidira guardar toda e qualquer poder de sensualidade que conseguisse para o dia em que o reencontrasse. 
E pelo jeito funcionara.

Dinho, até então sentado meio sem jeito na ponta da cadeira, inclinou seu corpo para frente apoiando-se nos braços fortes de surfista errante enquanto tentava demonstrar de algum jeito o quanto sentia a necessidade Manu, o quanto queria sair dali e te-la só para si. Estava cansado de dividi-la com o resto do mundo, de deixar que todos vissem a beleza de Manu. Mas naquele momento ele sabia que precisava esperar um pouco mais. Cada segundo, cada palavra que Manu dizia valia ouro para Dinho. 

Mais ou menos quarenta minutos se passaram. Dinho estava firme, sorridente, quente. Não aguentava mais.
"Nossa, já está tarde... Nem vi o tempo passar... Você viu?" 
Dinho por um segundo esqueceu que deveria responder. Ele havia entrado na inércia da conversa e quando abriu a boca para dizer qualquer bobagem, Manu atropelou "Vamos para outro lugar? Estou com saudades e cheia de dividir você com todos esses olhos a nossa volta"

Eles pensavam igual.
Ciumentos, tolos, necessitados. A saudade costuma causar essa sensação nas pessoas. Tantas horas conversando e mesmo assim, nenhum dos dois estavam satisfeitos. Estava mais do que provado que tudo ali não se passava de algo carnal.

Mas não importava, eles se queriam.

Manu pegou a bolsa pendurada na cadeira e esperou chupando uma balinha de yorgurt enquanto Dinho pagava a conta. Saíram de mãos dadas e foram até o carrinho vermelho de Manu. Entraram, fecharam as portas e como se nem esperassem, encontram os olhares de repente. Manu olhou acanhada para o volante e mesmo sabendo que tudo ali não passava de puro "doce", tal cerimonia era necessária. 
Dinho colocou sua mão direita no queixo de Manu e gentilmente puxou-o para perto do seu. 
Era certo que dali não passaria. 

Foram se aproximando, o coração pulsando cada vez mais rápido, os sentidos foram ficando cada vez mais aguçados e os olhares, que antes diziam-se tímidos, agora estavam ligados, sem ao menos piscar. 

De repente, no ápice do sentimento, logo quando as respirações já podiam até ser confundidas, alguém bateu no vidro.

"Vai livrar a vaga, moça?"

Sim, ela iria. Dinho afastou-se e Manu ligou o carro como que por impulso. Manobrou e começou a dirigir devagar pelas ruas de São Paulo. 

"Para onde iremos?" Dinho estava sem fôlego, inquieto apesar da experiência e da idade. Afinal, seus 26 anos sempre foram muito bem aproveitados.

"As meninas estão viajando. Podemos ir para o meu apartamento ou para a faculdade."

"Eu fico com a primeira opção" Sugeriu Dinho com um olhar sedutor, exatamente o mesmo que a conquistara naquela noite de virada do ano.