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Folha

É possível escrever  Para curar Passar a dor Transferir o que pesa Como mágica Sarar Pensar Sem deixar Só brotar O que sempre Calou Na folha, na face, a dor  Aos poucos Se transforma em amor E cai

Água

Existe uma coisa aqui   Tão profunda   Sentimento que deixa o peito cheio   Como escrevo tudo que tenho em mim? Não respiro Te sinto e nem pisco   Seus olhos competem com os meus   No fundo, te vejo Mas não leio, inunda   O que sente, o que pensa sobre mim   Sozinha e imersa em tanta dúvida   Fica turva cada ideia   Um pouco do que ouço, muito do que sonho Não respiro até te encontrar   Aos poucos, palavras escapam, buscam pelo ar Não me incrimino e você só me olha, sem piscar   Como sigo levando você em mim sem te tocar? Às vezes, um beijo seu escapa e eu não entendo   Quantas cervejas são necessárias para amar? Mas você não fala e eu me perco   Porque na vida somos tudo que não cabe nesse olhar  

Reverbera.

Ainda sinto meu corpo pulsando, a falta de ar, a urgência do querer mais.  Foi tão bom. Como eletricidade, a vontade reverbera, lembrando do que passou, deixando um rastro de memória que ecoa pela pele.  De dentro para fora, o presente se torna insuficiente, misto de saudade e euforia, confusão de coisas que, naquele instante, não era necessário entender.  Seu "eu" reverbera em mim, na lembrança de cada toque, na troca clara e intensa; sem pausa, sem pressa, ritmo nosso.  Quero de novo o sentimento que ainda não me deixou.  Respira.  De fora para dentro, te sinto. Agora lembro de alguns detalhes tão lindos, tão seus.  Ecoamos no infinito. Sincera.

Sobre encarar.

Agora entendia de onde vinha a dor. A carta meio amassada em cima da cama falava pouco, mas o bastante para que tanto fosse explicado.  Os sumiços, o aparente desinteresse pela filha, as noites sem sexo que as levou a supor traição - tudo agora se encaixava e mais, fazia com que se perguntasse como poderia ter sido tão cega diante de alguém que ela tanto amava.  Por algum motivo que Ana não entendia, Theo escolhera esconder sua dor; talvez para protege-la ou poupá-la do trabalho de precisar lidar com algo além da maternidade que logo a aguardava.  Ele sentia uma dor visceral, como se tivesse algo muito profundo preso dentro de si, implorando para ser acessado, mas que agora ocupava uma parte muito grande de si para voltar atrás; como doía.  Nas pequenas trocas do dia a dia agora em retrospectiva ela conseguia ver Theo se afastando, deixando de corresponder do jeito que um relacionamento pede. Ao mesmo tempo, suas reações frente a esse movimento pra...

Cigarro

Ana sentia falta de Olavo. Voltar para o Brasil para arrumar a papelada deixada por sua avó a fizera revisitar não somente sua família, mas a rotina que por tanto tempo amou. Caminhar pelas ruas arborizadas do seu antigo bairro fazia Ana querer fechar os olhos e sentir a mão de Theo segurando a sua novamente, como nos velhos tempos. O caminho até o metrô continuava o mesmo, esburacado, cheio de subidas e descidas. O Sol, que há tempos não a encontrava em Moscou, agora estava ali, acariciando o rosto de Ana enquanto ela se permitia enfim fechar os olhos, só por alguns segundos, até o semáforo fechar para os carros apressados de São Paulo. Ficaria um mês naquela cidade e há uma semana já sentia Olavo distante, limitado a conversas rápidas e superficiais, trocadas rapidamente após um longo dia de trabalho. Existia dentro dela uma necessidade estranha de dividir tudo com ele e, realmente, lamentar sua ausência naquele momento. Era frustrante não poder faze-lo simplesmente compreender...

Mergulhando com Laurie

Aos que assistem The Leftovers: contém spoilers. --------------- Laurie era mãe de dois e esposa parcialmente feliz. No dia em que tudo aconteceu, tinha ido sozinha fazer um ultrassom. Desencontros de rotina. O sorriso ainda estava estampado em seu rosto, congelado, quando aos poucos foi derretendo ao passo que tentava entender o porquê da pequena imagem ter sumido magicamente do monitor. A pequena ervilha que só ela conhecia tinha sumido de dentro de sua barriga. Uma ervilha que seria amada por dois irmãos e um pai. Família que não conhecia - e nem iria. Estava perplexa, não entendeu. Naquele dia, ninguém entendeu. Ainda deitada na maca, olhou o celular e se deu conta de que ninguém de sua família desaparecera além do seu bebê. Estavam todos bem. Estavam? Estava? Por isso, ela sabia que ninguém ali de fato conseguiria ajudá-la a superar a dor que ela agora carregava. Ela não podia dividir com sua família porque apesar de várias pessoas terem perdido entes queridos naq...

London Tube

Hoje, enquanto esperava pelo metrô, notei uma menina loira usando óculos escuros parada ao meu lado na plataforma. Dei de ombros e me posicionei para esperar o vagão lotado que estava a caminho. Quando as portas abriram, ela rapidamente entrou, seguida por mim e pelo restante da multidão. Encontrei então um lugar perto da porta e decidi ficar por ali.  Sabendo que não valeria a pena sentar, respirei fundo para conseguir manter a calma até chegar o momento de descer dali três estações.  Assim que a porta fechou, ouvi gritos furiosos. A menina, que antes parecia inofensiva ao meu lado, agora brigava ferozmente por um lugar no meio do vagão. Confesso que não consegui enxergar muito bem, mas pude ver rapidamente a expressão de constrangimento da mulher que aparentemente estava competindo pelo mesmo lugar. De repente, um silêncio humano se instalou entre o barulho produzido pelo contato do vagão com os trilhos do metrô. Foi possível sentir uma mistura de curiosidade e constran...

Um manual pra quem quer saber como ajudar.

Viver vários dias seguidos a mesma angústia é algo bizarro porque não te deixa respirar direito, pensar direito, viver por inteiro. É como se, no fundo, qualquer palavra nova carregasse consigo o mesmo tom antigo, a mesma velha forma de enfrentar o mundo sem uma vontade real de seguir em frente e esquecer. O problema de viver uma angústia durante tantos dias seguidos, é que você deixa de se conhecer e começa a questionar atitudes que simplesmente não faziam parte de você. Começa a descobrir um lado seu que normalmente é ignorado e apagado o mais rápido possível quando tudo parece bem. E ele te cutuca, chama e perturba. Cresce devagar, porém constante, sempre de braços dados contigo, pomposo, entrando com o peito estufado quando chega em algum lugar. As pessoas então te veem, mas não sabem mais sobre o que você vai falar, qual tipo de piada podem contar. Porque tudo te machuca, tudo te lembra aquele momento. Quando se vive vários dias seguidos de angústia, você começa a ques...

Retiro

Eu só precisava de alguns dias de paz, sozinha, sem precisar dividir opiniões ou decisões. Segui então a sugestão da minha mãe e reservei quatro diárias em uma pousada perdida no meio do nada e, para a preocupação ser a menor possível, paguei logo 20% adiantado e já inclui o serviço de transporte. Ainda em São Paulo, cheguei no ponto de encontro e esperei. Aos poucos, meus companheiros de transporte começaram a chegar e eu, me sentindo cada vez mais perto dos tão sonhados dias de tranquilidade, só queria ser invisível. Os livros na minha bolsa de pano pesavam bastante e eu só conseguia me sentir ansiosa por finalmente dispor de tempo para enfrentar todos os pesos que estava levando comigo naquela viagem. Considerando que começar pelo peso dos livros seria menos assustador, retirei o primeiro da bolsa e pedi um café para acompanhar. Começar a ler naquele momento fazia parte da minha estratégia, assim todos ali já assumiriam que a vaga de antissocial do grupo já estaria ocupada....

Deixa ir

A sua aparência agora é mais abstrata, já não te vejo com tanta frequência e isso me assusta. Não lembro com tanta certeza da cor dos seus olhos ou dos pequenos detalhes que antes tiravam o meu sono, mas que também me incentivavam a levantar na manhã seguinte. Confesso que, às vezes, entro na sua página para ver alguma foto sua, relembrar os seus trejeitos e reviver o sentimento engraçado que o seu sorriso sempre despertou em mim; mas que já não desperta mais assim, tão prontamente. Aí foco nos teus cabelos, lembro de cada fio curto encostando nos meus dedos enquanto acariciava a sua cabeça antes de dormir. Era bom passear pelas suas costas, contornar a sua musculatura enquanto ouvia você prometer que jamais me deixaria partir. Porque você já sabia... Eu nunca pedi que você prometesse isso, sequer disse que iria embora. Nem por um segundo usei qualquer palavra que insinuasse a minha ânsia repentina de sumir, mas você sacou e me olhou calado, com a cabeça meio de lado, sem mui...
"I know the gamble never works twice All the distractions of the table and the weighted dice But the thrill it feels so nice, you do it all again." http://youtu.be/ZUVh3x3-I-s

Margarida

 Alguma coisa estava diferente. Ela não sabia exatamente o que era e também não sabia se o que sentia poderia ser classificado como bom ou ruim. Sua mania esquisita de tentar separar em categorias os mais diversos sentimentos fazia com que ela perdesse minutos valiosos de sua vida. Segurou a xícara de café com as duas mãos e deixou que o vapor encontrasse levemente a ponta do seu nariz. Olhava para frente, infinito, tímida, sem saber direito o que procurar. Fazia frio e ficar sentada na grama úmida durante horas já não incomodava como nas primeiras vezes. Sentiu o celular vibrar. Não pagara a conta. Apoiou a xícara no colo, aninhando o objeto entre as pernas cruzadas e colocou uma das mãos atrás de si, apoiando o corpo. Sentiu a grama úmida, a terra entrando embaixo das suas unhas que há muito deixara de pintar. Ouviu alguém se aproximando mas não teve interesse em virar para ver quem era. Naquele momento, ela não se importava e também não queria sair daquela posição e acab...
"Manhã cedo agora é bom de levantar, Toda a dor que me aparece eu te conto, Você me cura sem sequer notar." Baby I'm sure - Mallu Magalhães

Lóri ou Mariana, prazer.

"Lembrava-se de que a última palavra dele fora "adeus". Mas ele sempre se despedia assim. Como se cortasse de uma vez para outra o vínculo? E ambos ficassem em liberdade, um do outro? Lóri sabia que ela própria é quem cortara vínculos a vida inteira, e talvez alguma coisa nela sugerisse aos outros a palavra "adeus"." Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, Clarice Lispector  -   Editora Rocco Ltda., 1998, página 107

VIII- Moscou

- Alô? - Ana? Foi quando reconheceu a voz de Theo. Seria possível? - Theo, como foi que me encontrou? - Ah, oi... É que eu senti a sua falta. Sabe, já faz quatro anos que não nos falamos. - Pois é. Como me encontrou? - Eu pedi o seu número para a Marcela. Espero que não se importe.  Ana não respondeu. Não sabia o que dizer. Será que ela se importava? Olhou para o lado e viu Olavo dormindo tranquilamente. Clara estava na casa de uma amiguinha e os dois tinham acabado de passar uma noite ótima juntos. Será que ela se importava? - Ah, está tudo bem. Quero dizer, não estava esperando a sua ligação. Você está bem? - Sim, estou. É que eu sinto a sua falta, Ana. Sei que talvez seja egoísmo ligar assim, tão de repente, depois de tanto tempo e escancarar o que sinto desse jeito mas a verdade é que não estou conseguindo levar a vida sem você. Mais uma vez, Ana olhou para o lado. Olavo era tão bom para ela e sua vida estava tão b...

VII- 14 de Agosto

    Nascera linda, como a mãe. Marcela segurava a menina no colo enquanto Ana dormia no quarto de hospital. A amiga e agora madrinha acariciava com cuidado a têmpora de Clara enquanto olhava preocupada para o celular ao seu lado. Onde estaria Theo? Às vezes ela se perguntava como Ana poderia amar tanto alguém que não valoriza datas, que sequer fora capaz de atender o telefone quando sua namorada estava prestes a dar a luz.        Não, na verdade Marcela ficava revoltada, triste por ter uma amiga tão mais nova e que já era dona de uma vida tão intensa apenas aos 22 anos. Ela, aos 30, finalmente ficara noiva de André. Ao contrário do que normalmente todos imaginam, era ele quem insistia para se casarem. Marcela, assim como Ana, nunca soube lidar muito bem com relacionamentos apesar de sempre estar metida em algum. A traição fora sua companheira por muitos anos e agora já não tinha mais forças para achar graça na injustiça.       ...

XI- “Ego(lir)ísmo”

-     Sabe, Ma... Estou cansada. Às vezes eu queria que as pessoas parassem de falar só por cinco minutos. Não aguento mais as pessoas se intrometendo tanto nas escolhas que vão fazer diferença tão e somente na minha vida, entende? -        Sim. -        Sim? Só isso? -    Eu entendo o que você quer dizer, mas você não iria aguentar. - Disse Marcela enquanto olhava com atenção para a tela brilhante do computador que estava em seu colo. -         Como assim, “não iria aguentar”? Me diz, quem é que não quer ser deixado em paz? -         Ninguém. Inclusive você, Ana.                  Marcela fechou a tela do notebook, colocou o aparelho sobre a mesa de madeira e foi até a cozinha. O apartamento de Marcela era pequeno porém aconchegante e Ana, sempre que dormia lá, mesmo que fosse n...

Suco de Laranja

"Diz pra mim se vale a pena, amor A gente ria tanto desses nossos desencontros Mas você passou do ponto e agora eu já não sei mais..."   Finjo que não te vejo porque não quero ter que agir como tonta caso tivesse que lidar com você. Porque eu perco o chão, as palavras, a postura.   Eu finjo não te ver e passo reto porque quero o gostinho de ter você me puxando pelo braço, buscando qualquer abraço reprimido meu. Porque ele cresce quando te encontro, quando te encosto em mim e você me encosta em você. Nossos corpos se tocam com delicadeza porém franqueza, como quem sabe o que irá encontrar.   Hoje te vi do outro lado da rua e não corri. Simplesmente continuei minha rota torta em direção ao carro, como quem não quer nada, como quem não viu nada, especialmente você. Admito ter dado passos longos e calmos, sem muita pressa, pra dar tempo de você me ver e me querer, pra dar tempo de, quem sabe, você caminhar atrás de mim e pedir pra entrar no carro comigo, as...

Meio Fio

  Theo sambava enquanto segurava a cintura de cada moça com segurança e sensualidade, como se a dança fosse uma válvula de escape para tudo o que estava guardando dentro de si. Girava de um lado para o outro, conduzia cada companheira com agilidade, a mesma que o fizera conquistar Ana quando se conheceram. Seu olhar permanecia fixo em algum ponto perdido em meio à multidão que os cercava, enquanto sua cintura eseus pés seguiam o ritmo da música. Eles tinham o incrível poder de fazer qualquer mulher dançar, da mais inexperiente até a mais ousada.  Ana era ousada. Na primeira vez em que a viu, estava um pouco bêbado, muito feliz por ter sido aprovado no vestibular de arquitetura na Universidade de São Paulo. Ela estava perto do bar, acompanhada por uma ou duas amigas também muito bonitas, mas que jamais teriam a capacidade de cativá-lo do jeito que ela fez. Olhou para ele, tomou um gole da cerveja gelada e sorriu. Seus olhos verdes sugeriam um toque travesso, como se...
“Are we simply romantically challenged, or are we sluts?” ~Carrie

Poeira.

Veio assim, do nada, como quem não quer nada. Renata estava sentada no sofá que acabara de comprar, com os pés em cima da almofada que deveria tomar todo o cuidado do mundo para não sujar. Mas a verdade é que ela não ligava; estava cansada. Seus olhos mareados buscavam na sala vazia algum sentido para viver, qualquer resquício de felicidade que talvez estivesse junto à poeira esquecida no rodapé. Tomou um gole d'água, calmamente. Repousou o copo na pequena mesa de madeira ao lado do sofá e segurou o controle remoto da televisão mas não apertou o botão grande e vermelho. Renata estava só, cansada, frustrada, mas não conseguia suportar a ideia de sucumbir e entregar a sua atual crise existencial nas mãos de um programa de televisão qualquer. Abandonou o controle e, mais uma vez, olhou em volta. Pensou em ler, talvez. Mas ai lembrou que já sabia o final do livro e que a moça morreria, assim, por pura e espontânea vontade, por saber que a vida nada mais era, para ela, do que uma...

Eternal Sunshine Of The Spotless Mind

"Eternal the sunshine where spotless the mind Nothing can injure what nothing can find Erasing the sorrow; unfulfilling lament Too much has been given, too much has been spent Perchance for removal every schism and strain The depth of the scarring that at once caused such pain Forgetting the heartbreak, disappointment and loss Remembrance is sadness we have all come across So fresh from the suffering what memory designed Eternal the sunshine where spotless the mind"

Futura tattoo : )

Imagem
  Empolgada, eu? Magiiiina!

Mãos.

Ela estava confusa, cansada e tremendamente solitária. A certeza de que o dia ainda demoraria para chegar ao fim devorava qualquer possível sorriso, qualquer sonho ou decisão que pudesse tirá-la dequele sofá de couro velho. Chovia e fazia frio. Sentia falta, saudade. Estava totalmente depremida e isso fazia com que ela sentisse um aperto absurdo dentro de si. Mudou de canal sem se preocupar em encontrar algo que de fato prestasse e logo que se deu conta de que nada que passasse ajudaria a resolver sua questão existencial babaca, levantou. Deitou de qualquer jeito na cama macia e fechou os olhos suavemente. Ela não queria sofrer, não queria pensar... Só queria dormir. Virou de um lado, voltou para o outro e quando viu, estava com as duas mãos junto ao peito, como se estivesse rezando. Tudo aconteceu mais do que instintivamente e logo que se deu conta, estava respirando fundo e rezando palavras que em nenhuma outra situação poderiam parecer mais sinceras. Era bem mais do que u...
De que modo? Nem ideia. Só resolvi passar aqui e escrever qualquer coisa, para não dizer que ando deixando os velhos costumes de lado. Mas quer saber? Talvez eu esteja.

Café Filosófico I O que pode o Corpo?

O NOSSO CURRICULO ESCOLAR SE CHAMA GRADE. Será que tem algo errado? ética é atitude. atitude é corpo. ‎"Não são raros os gênios, são raros os gênios de mil braços capazes de agarrar o momento certo."- Nietzsche. a energia que está no meu silêncio... Entender é dominar. Dominar é controlar. Canção Excêntrica - Cecília Meireles ‎"Espaço é o que a nossa experiência faz dele" A vida é uma inversão. E tbm uma invenção. Nós não habitamos o nosso corpo, nós somos o nosso corpo.
Hoje é dia 9, dia q Clarice Lispector faleceu. Se vc se considera um pouco culto e esta procurando algo realmente bom para ler, leia Clarice. Não espere compreende-la, pode deixar q ela te compreende por vc.

Escrever

Fazia tempo que Manu não parava para escrever. Por um segundo, ao ler alguns dos seus textos antigos, sentiu uma nostalgia estranha, como se escrever pudesse voltar a fazer algum sentido, como se a própria criatividade fosse capaz de mostrar-lhe lados que antes não via, reflexões distantes que durante o dia-a-dia corrido não aparecem assim tão simplesmente. Escrever fazia bem, mostrava a verdade e ao mesmo tempo tinha o dom de fazer esquecer ou enfeitar algo que poderia ter sido tão bom quanto realmente foi. Escrever era quase que uma terapia, por assim dizer.

Vida Besta

Domingo a noite com cara de sábado. A vontade de me arrumar é a mesma, o sapato de salto no armário continua ali, em baixo do vestido curto pendurado no cabide de madeira. Talvez seja muito simples trasformar um domindo num sábado, uma segunda numa sexta... Mas o que irrita é que nem todo mundo está afim de abraçar essa ideia maluca. Mas eu vou dizer uma coisa... Eu que nunca fui impulsiva, mesmo de pijamas, estou quase chamando um taxi.

5am

Como começar a escrever? Ou melhor, descrever. Porque sinceramente, a felicidade que eu estou sentindo agora não pode ser comparada, explicada ou sequer revivida. Há tempos que nós estávamos planejando tal conversa. Vivemos distante, mais precisamente à dois oceanos de distância, seis horas de diferença, 9 anos entre uma idade e outra. Como de costume, arranjei uma amizade mais velha. E pela primeira vez, não vou alterar nomes ou inventar histórias fantásticas. Apenas o nome de Manu seré mantido. 5 da manhã. O despertador tocou antes do horário habitual. Embora ele e a menina que dormia ao seu lado não estivessem acostumados a "funcionar" antes da seis, Manu levantou num pulo, sem ao menos repensar a possibilidade de desligar o aparelho e voltar a dormir. Pegou rapidamente o computador na mesa em frente à sua cama e ligou-o com ansiedade. Seus olhos brilhavam e a esperança mantinha suas pálpebras abertas. Ela sorria e a pesar de saber da possibilidade de seu plano f...
"Agora é um instante. Você sente? eu sinto"  Clarice Lispector Ah, como eu sinto...

Sala de Embarque.

19h43 e eu me pergunto "No que é que eu fui me meter?!" Estou praticamente sozinha na sala de embarques e, para mim, a tela grande cheia de horários e palavras nunca foi tão interessante. Medo? Sim, claro que estou com medo; isso é óbvio. Mas ao mesmo tempo, sinto que é uma causa necessária, como um pássinho que precisa cedo ou tarde pular do ninho e bater as asas para aprender a voar. Ok, comparação nojenta, ok, já entendi. Mas acho que o nervosismo nunca me esteve assim, tão presente (tirando os momentos em que recebo a prova de física, mas isso não conta) Nervosismo, medo e uma sala de embarque vazia. A pesar tudo, eu estou feliz. Queria isso há muito tempo e sinto que era disso que eu precisava: viajar por ai assim, sem "ninguém", sem estar presa àqueles que eu vejo sempre. Vai ser bom, sem dúvida. TEM QUE SER BOM. hahaha Mas vamo que vamo que a energia está show e até wi-fi eu já descolei por aqui. England here I go!
'O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio.' Clarice Lispector

Curiosidade

'Queria muito saber o que você pensa quando você me olha.'
'Vivo tão intensamente o momento, que quase chego atrasada ao momento seguinte.'

A vida sabe o que faz.

"Senti a sua falta e não te liguei. Traduzindo, você está se afastando demais e eu estou me acostumando a viver sem você." by @famousphrases (mas isso não significa que eu esteja feliz com isso.)

Dente-de-Leão

Chama. Chama. Chama. Ninguém atende. O tempo passa como se tivesse um peso preso nos pés e eu ali, sentada com o coração na mão direita e o celular na esquerda. Só para constar, eu sou destra. Destra e tensa. Conclusão: Esmagava o meu coração com aflição e ansiedade como nunca fizera antes. E como doía. Mas o que mais me doía era aquela história de "chama chama e ninguém atende". Falar com a moça da caixa postal já não tinha mais graça e, mesmo consciente de que estava ligando loucamente, a necessidade de falar com você era maior do que qualquer estado de sanidade aceitável pela sociedade maluca que no rege. Já me basta ter de aceitar fazer parte desse mundo, dessa cidade, dessa loucura chamada escola. Acho que nessas horas, a minha família é a única coisa que me conforta. E é claro, os amigos do peito. Às vezes chego a considerar a ideia de fugir e me encolher num canto de gruta qualquer e ficar só ali, pensando na vida. Queria um tempo sozinha pra ficar pensa...

Faca de açougueiro.

Ela estava triste. Dinho estava de partida e Manu, ali, olhando para o chão sem ao menos um pingo de esperança em seu coração. Por que tinha que ser assim? Encostada no carro, fingia que não ligava para o fato de ver a razão da sua felicidade ir embora...  A verdade é que, por mais que ela gostasse dele, demonstrar o que tinha dentro de si não era o melhor a ser feito naquele momento. "Sabe, morena... Ficar sem você não vai ser fácil." "É..." Manu não sabia o que responder. Sentia dentro de si um misto de tristeza, carinho e raiva. "Fica..." Foi só o que ela conseguiu dizer naquele momento, mas Dinho não estava olhando para ela. Uma mulher bonita passara. Naquela hora, talvez o melhor e mais aceitável fosse que Manu esbravejasse, gritasse e xingasse a mãe de Dinho com todas as suas forças e vocabulários chulos.  Mas o fato inevitável, inexplicável e incoerente, era que ela queria abraça-lo. Ela precisava, a cima de qualquer direito de sentir ciúme, ...