domingo, maio 27, 2018

Um manual pra quem quer saber como ajudar.


Viver vários dias seguidos a mesma angústia é algo bizarro porque não te deixa respirar direito, pensar direito, viver por inteiro. É como se, no fundo, qualquer palavra nova carregasse consigo o mesmo tom antigo, a mesma velha forma de enfrentar o mundo sem uma vontade real de seguir em frente e esquecer.

O problema de viver uma angústia durante tantos dias seguidos, é que você deixa de se conhecer e começa a questionar atitudes que simplesmente não faziam parte de você. Começa a descobrir um lado seu que normalmente é ignorado e apagado o mais rápido possível quando tudo parece bem. E ele te cutuca, chama e perturba. Cresce devagar, porém constante, sempre de braços dados contigo, pomposo, entrando com o peito estufado quando chega em algum lugar.

As pessoas então te veem, mas não sabem mais sobre o que você vai falar, qual tipo de piada podem contar. Porque tudo te machuca, tudo te lembra aquele momento.

Quando se vive vários dias seguidos de angústia, você começa a questionar quem são seus amigos e, muitas vezes de forma injusta e até masoquista, passa a buscar motivos para afastá-los para longe de você. Você quer muito que alguém te abrace, mas nem de longe quer que essa pessoa perca o tempo dela com você. É um sentimento engraçado, meio mistura de orgulho e carência com talvez uma pitada de irritação; porque você não queria precisar falar ou pedir nada. Não queria precisar trabalhar ou sequer sair de casa. Mas você precisa.

Aí você reprime a necessidade de sumir só por uns dois dias, assim, só pra não se autodestruir. Você reprime a vontade de falar sobre o que você realmente quer falar e é assim que as palavras saem picadas, cansadas entre um assunto e outro no trabalho, entre frases corriqueiras trocadas entre amigas que acham que respeitar o seu espaço é o melhor que pode ser feito por você.

É preciso interditar, abraçar, trazer um pote de sorvete, algumas garrafas de vinho e esperar até você finalmente falar. É preciso ter paciência e uma característica que nem sempre é fácil de se encontrar: É preciso ser gentil; daquele tipo de gentileza em que mesmo quando uma pessoa é dura, você consegue sentir que ela te ama pelo simples fato de que ela faz questão de "estar". Ela quer te ver bem, faz carinho na sua cabeça e ignora a sua idade caso avalie que o que você precisa é de uma canção de ninar.

Em dias de angústia incessante, você também se sente vulnerável, como se qualquer novo segundo pudesse trazer algo extremamente revelador (ou amedrontador). É um misto de ansiedade com arrependimento, como se uma segunda chance pudesse aparecer a qualquer momento para te resgatar ou destruir de vez, nunca sei. 

Por isso, se você é do tipo que quer ajudar, surpreenda essa pessoa com algo que a distraia daquilo que ela estava de fato a esperar. Traga um bombom, conte uma noticia boa sobre a humanidade, leve-a para passear e peça favores ou para te acompanhar até qualquer lugar.

Mas se você ama essa pessoa, você precisa ajudá-la a começar a se libertar.
Apareça na casa dela sem se convidar.
Mande uma mensagem dizendo “estou chegando, te amo” e por favor, enxergue além do “Está tudo bem” automático que alguém que vive vários dias de angustia está acostumado a falar.

Tenha coragem de dizer “Eu sei que você não está bem, eu te conheço. Você não está bem, mas vai ficar. As coisas vão melhorar, eu prometo.”

Nessas horas, é bom ter alguém torcendo por você, alguém que traga qualquer notícia boa sobre a sua vida porque você é a última pessoa que consegue enxergar um jeito positivo de continuar.
“Você não está bem, mas vai ficar. Deita aqui sua cabeça no meu colo, não tem nada de errado em chorar.” 

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