Meio Fio
Theo
sambava enquanto segurava a cintura de cada moça com segurança e sensualidade, como se
a dança fosse uma válvula de escape para tudo o que estava guardando dentro de
si. Girava de um lado para o outro, conduzia cada companheira com agilidade, a
mesma que o fizera conquistar Ana quando se conheceram.
Seu olhar permanecia fixo em algum ponto perdido em meio à multidão que os
cercava, enquanto sua cintura eseus pés seguiam o ritmo da música. Eles tinham o incrível poder de fazer qualquer mulher dançar, da mais inexperiente
até a mais ousada. Ana
era ousada.
Na
primeira vez em que a viu, estava um pouco bêbado, muito feliz por ter sido
aprovado no vestibular de arquitetura na Universidade de São Paulo. Ela estava
perto do bar, acompanhada por uma ou duas amigas também muito bonitas, mas que
jamais teriam a capacidade de cativá-lo do jeito que ela fez. Olhou para ele,
tomou um gole da cerveja gelada e sorriu. Seus
olhos verdes sugeriam um toque travesso, como se ela quisesse muito fazer algo
errado pelo simples fato de o ser. As suas mãos de dedos finos e delicados
seguravam o copo com classe mas ao mesmo tempo inspiravam confiança, como se
ela fosse o tipo de garota que aprendeu cedo a viver.
Theo
dançava e lembrava, suspirava profundamente e enganava a companheira da vez,
fazendo-a acreditar que tal suspiro talvez fosse, para ela, de paixão. Talvez, se
ele mantivesse o contato visual que normalmente existe entre aqueles que
dançam, ela teria percebido sua tristeza, o tamanho da saudade que ali era a
grande responsável por apagar o brilho dos olhos de um moço apaixonado pelo
samba e por uma mulher que agora estava longe, viajando pelo mundo com sua filha
em busca dos sonhos que ele não tivera coragem de realizar.
Assim
que a música terminou, saiu do bar pequeno e mal decorado para fumar o
costumeiro cigarro no meio fio. Sentou-se na guia, acendeu um dos vinte e ficou
ali, analisando o seu companheiro feito de papel e tabaco. Logo ele também
acabaria, pensou.
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