quarta-feira, outubro 09, 2013

Meio Fio

 
Theo sambava enquanto segurava a cintura de cada moça com segurança e sensualidade, como se a dança fosse uma válvula de escape para tudo o que estava guardando dentro de si. Girava de um lado para o outro, conduzia cada companheira com agilidade, a mesma que o fizera conquistar Ana quando se conheceram.


Seu olhar permanecia fixo em algum ponto perdido em meio à multidão que os cercava, enquanto sua cintura eseus pés seguiam o ritmo da música. Eles tinham o incrível poder de fazer qualquer mulher dançar, da mais inexperiente até a mais ousada. Ana era ousada.


Na primeira vez em que a viu, estava um pouco bêbado, muito feliz por ter sido aprovado no vestibular de arquitetura na Universidade de São Paulo. Ela estava perto do bar, acompanhada por uma ou duas amigas também muito bonitas, mas que jamais teriam a capacidade de cativá-lo do jeito que ela fez. Olhou para ele, tomou um gole da cerveja gelada e sorriu. Seus olhos verdes sugeriam um toque travesso, como se ela quisesse muito fazer algo errado pelo simples fato de o ser. As suas mãos de dedos finos e delicados seguravam o copo com classe mas ao mesmo tempo inspiravam confiança, como se ela fosse o tipo de garota que aprendeu cedo a viver.


Theo dançava e lembrava, suspirava profundamente e enganava a companheira da vez, fazendo-a acreditar que tal suspiro talvez fosse, para ela, de paixão. Talvez, se ele mantivesse o contato visual que normalmente existe entre aqueles que dançam, ela teria percebido sua tristeza, o tamanho da saudade que ali era a grande responsável por apagar o brilho dos olhos de um moço apaixonado pelo samba e por uma mulher que agora estava longe, viajando pelo mundo com sua filha em busca dos sonhos que ele não tivera coragem de realizar.


Assim que a música terminou, saiu do bar pequeno e mal decorado para fumar o costumeiro cigarro no meio fio. Sentou-se na guia, acendeu um dos vinte e ficou ali, analisando o seu companheiro feito de papel e tabaco. Logo ele também acabaria, pensou.

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