terça-feira, janeiro 28, 2014

VIII- Moscou


- Alô?
- Ana?
Foi quando reconheceu a voz de Theo. Seria possível?
- Theo, como foi que me encontrou?
- Ah, oi... É que eu senti a sua falta. Sabe, já faz quatro anos que não nos falamos.
- Pois é. Como me encontrou?
- Eu pedi o seu número para a Marcela. Espero que não se importe.

 Ana não respondeu. Não sabia o que dizer. Será que ela se importava? Olhou para o lado e viu Olavo dormindo tranquilamente. Clara estava na casa de uma amiguinha e os dois tinham acabado de passar uma noite ótima juntos. Será que ela se importava?

- Ah, está tudo bem. Quero dizer, não estava esperando a sua ligação. Você está bem?
- Sim, estou. É que eu sinto a sua falta, Ana. Sei que talvez seja egoísmo ligar assim, tão de repente, depois de tanto tempo e escancarar o que sinto desse jeito mas a verdade é que não estou conseguindo levar a vida sem você.

Mais uma vez, Ana olhou para o lado. Olavo era tão bom para ela e sua vida estava tão boa na Rússia... Fazia mestrado na Universidade de Moscou e vivia com Olavo há quase três anos. Clara estava cada dia mais bela e inteligente e adaptara-se surpreendentemente bem ao clima e personalidade da cidade russa.

- Theo, as coisas mudaram. Estou aqui na Rússia agora. O que você quer de mim?
-  Queria ver a Clara, ser pai dela. Na época fui muito infantil e me arrependo todos os dias por isso.
- Eu sei. Pergunte para a Marcela quantas vezes ela te ligou lá do hospital, quantos dias ela deixou de ir ao trabalho porque além dos meus pais, você era a pessoa que mais precisava estar lá e não esteva. E eu não vou dizer que são águas passadas porque não são, e você sabe. Agora que a Clarinha está crescida e não tem mais fraldas para trocar é muito fácil me ligar e tentar reatar. Mas a real, Theo, é que eu estou feliz aqui. Conheci um homem que quis que eu fosse parte da vida dele e não ao contrário como aconteceu com você.

- Não sei muito bem o que dizer.
- É, eu imaginei que fosse dizer isso.

Ana desligou e viu Olavo acordado, olhando para ela. Dos olhos de Ana brotaram lágrimas grandes e pesadas que deram inicio a um choro desesperado e ininterrupto.
         Olavo não disse nada, apenas a abraçou. Não entendia muito português, mas ao ouvir o nome “Theo”, percebeu do que se tratava. Estava seguro em relação aos sentimentos de sua companheira mas também sabia muito bem que o passado poderia doer

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