terça-feira, janeiro 28, 2014

VII- 14 de Agosto

    Nascera linda, como a mãe. Marcela segurava a menina no colo enquanto Ana dormia no quarto de hospital. A amiga e agora madrinha acariciava com cuidado a têmpora de Clara enquanto olhava preocupada para o celular ao seu lado. Onde estaria Theo? Às vezes ela se perguntava como Ana poderia amar tanto alguém que não valoriza datas, que sequer fora capaz de atender o telefone quando sua namorada estava prestes a dar a luz. 
      Não, na verdade Marcela ficava revoltada, triste por ter uma amiga tão mais nova e que já era dona de uma vida tão intensa apenas aos 22 anos. Ela, aos 30, finalmente ficara noiva de André. Ao contrário do que normalmente todos imaginam, era ele quem insistia para se casarem. Marcela, assim como Ana, nunca soube lidar muito bem com relacionamentos apesar de sempre estar metida em algum. A traição fora sua companheira por muitos anos e agora já não tinha mais forças para achar graça na injustiça.                                                                                      Ter aquela criança em seus braços fez com que por um segundo ela invejasse a amiga; mas em seguida, olhou para a quase-adolescente deitada na cama de lençóis brancos e sentiu o seu coração pesar. Ela não invejava a amiga, mas queria mais do que nunca poder lhe ser útil nesse momento tão turbulento de sua vida.
      Sentada na poltrona ao lado, de repente se deu conta de que nunca chorara por Ana. Lembrou de quando se conheceram no colégio em que trabalhava e a amiga estudava. Afinal, o que raios estava pensando quando resolveu deixar uma menina de 15 anos entrar na sua vida? Ela não sabia, mas também não se arrependia. Ao longo dos anos, cada dia mais elas descobriam coisas novas sobre outra e também sobre si. Ana aprendeu com Marcela a beber, sambar e dirigir enquanto Marcela, que julgava não ter nada para aprender com a amiga mais nova, se deu conta de que era justamente isso que estava sendo evidenciado ali: O coração de Ana e a admiração que ela tinha por Marcela despertavam o melhor na amiga mais velha e faziam com que ela quisesse sempre ensinar e mostrar para Ana o melhor jeito de se viver.
      Enquanto Theo não chegava, devolveu Clara ao berçário e segurou uma das mãos da amiga. Aninhou-se cautelosamente na cama e olhou atentamente para Ana. Ficou assim por um bom tempo, acariciando uma das mechas de cabelo da amiga com a outra mão, apenas analisando cada traço daquela recém mãe que vira crescer. Era um sentimento estranho, nostálgico e até um pouco triste. Já estava quase adormecendo quando sentiu uma lágrima escorrer.


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