Poeira.
Veio assim, do nada, como quem não quer nada. Renata estava sentada no sofá que acabara de comprar, com os pés em cima da almofada que deveria tomar todo o cuidado do mundo para não sujar. Mas a verdade é que ela não ligava; estava cansada. Seus olhos mareados buscavam na sala vazia algum sentido para viver, qualquer resquício de felicidade que talvez estivesse junto à poeira esquecida no rodapé. Tomou um gole d'água, calmamente. Repousou o copo na pequena mesa de madeira ao lado do sofá e segurou o controle remoto da televisão mas não apertou o botão grande e vermelho. Renata estava só, cansada, frustrada, mas não conseguia suportar a ideia de sucumbir e entregar a sua atual crise existencial nas mãos de um programa de televisão qualquer. Abandonou o controle e, mais uma vez, olhou em volta. Pensou em ler, talvez. Mas ai lembrou que já sabia o final do livro e que a moça morreria, assim, por pura e espontânea vontade, por saber que a vida nada mais era, para ela, do que uma...